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• atualizado às 10h02
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Débora Seabra sempre estudou na escola regular, fez magistério e hoje é professora assistente em um colégio tradicional de Natal (RN)
Primeira professora com Síndrome de Down do Brasil,
Débora Seabra, 32 anos, precisou enfrentar uma série de temores e
preconceitos para conseguir concluir os estudos, entrar para o mercado
de trabalho e, agora, publicar o seu primeiro livro. As dificuldades
começaram em casa. No início da década de 1980, quando Margarida Seabra
deu à luz a uma menina diferente das demais, a mãe foi "ao fundo do
poço" e não conseguia aceitar a situação. Mas o amor pela filha foi
maior. A promotora pública rompeu o preconceito e buscou ajuda para que a
caçula fosse tratada com igualdade, sendo em casa, na escola ou no
trabalho. Hoje, Débora coleciona uma série de vitórias e virou exemplo
da luta pela inclusão de pessoas com deficiência intelectual nas escolas
regulares.
"Hoje o mundo é diferente, as crianças com Down estão
estudando, fazendo faculdade. Mas quando a Débora nasceu foi terrível.
Eu desejei que ela morresse", conta Margarida, ao afirmar que a filha
sempre soube da rejeição inicial. "Temos uma relação muito transparente.
Eu sempre digo que precisei vomitar todo o sofrimento, ir ao fundo do
poço, para conseguir encarar o problema". O amor superou a diferença e
em pouco tempo ela passou a admirar a sua pequena. Foi aí que a família
sentiu a necessidade de buscar ajuda.
Hoje o mundo é diferente, as crianças com Down estão
estudando, fazendo faculdade. Mas quando a Débora nasceu foi terrível.
Eu desejei que ela morresse
Margarida Seabra
Mãe da primeira professora com Down
Naquela época, com pouca informação sobre o
acompanhamento de pessoas com Down, Margarida e o marido descobriram uma
clínica em São Paulo que oferecia apoio de psicólogos, fisioterapeutas
e fonoaudiólogos. Eles passaram a visitar o local pelo menos quatro
vezes por ano, mas perceberam que outras famílias na mesma situação não
tinham condições financeiras para deixar o Nordeste em busca de ajuda na
capital paulista. Decidiram então criar uma associação e ensinar para
outros pais o que aprendiam em São Paulo. "Passávamos para eles os
exercícios de fisioterapia, de fonoaudiologia que aprendíamos". A
associação cresceu e no próximo sábado completa 30 anos.
"Com essa equipe multidisciplinar eu aprendi que não
podia mudar a minha rotina, o meu trabalho, porque tinha uma filha com
Down. Eles ensinaram que ela precisava de estímulos, mas que deveria ser
tratada como uma pessoa comum. Foi o que eu fiz", conta Margarida, que
hoje está aposentada do Ministério Público e focada nas ações da
associação. Débora cresceu tendo as mesmas regalias e cobranças que o
irmão mais velho e nunca frequentou uma escola especial.
Profissão: professora
Débora falou com o Terra por telefone, logo após chegar em casa depois de uma manhã de atividades na Escola Doméstica, uma tradicional instituição de ensino particular de Natal. Defensora da inclusão, ela contou que lembra de uma situação difícil na escola: quando um colega a chamou de mongol. "Foi só essa vez no colégio e depois no magistério tinha um pouco de preconceito também. Mas no trabalho não", afirmou, ao frisar que tanto os alunos quanto os demais professores sempre a respeitaram.
Débora falou com o Terra por telefone, logo após chegar em casa depois de uma manhã de atividades na Escola Doméstica, uma tradicional instituição de ensino particular de Natal. Defensora da inclusão, ela contou que lembra de uma situação difícil na escola: quando um colega a chamou de mongol. "Foi só essa vez no colégio e depois no magistério tinha um pouco de preconceito também. Mas no trabalho não", afirmou, ao frisar que tanto os alunos quanto os demais professores sempre a respeitaram.
Débora estudou em escolas particulares, fez aulas de
dança, de teatro, e quando estava na oitava série decidiu que queria ser
professora. Cursou por quatro anos o ensino médio integrado ao
magistério e passou a estagiar na Escola Doméstica. Já são nove anos
trabalhando no turno da manhã, com alunos da educação infantil.
Segundo a diretora da escola, Débora não recebe salário,
atua como voluntária por decisão da família. "Eles queriam que ela
aprendesse sobre o mundo do trabalho, então aceitamos que ela
trabalhasse como professora assistente. Como deu tão certo, ela
continuou", disse Angela Guerra Fonseca. Atualmente, Débora atua como
professora assistente em uma turma do primeiro ano do fundamental, ajuda
os alunos com mais dificuldades durante a aula, leva a classe para a
merenda e para as oficinas. "Nunca tivemos nenhum problema, ela sabe bem
as suas tarefas e nunca chegou atrasada", comemora a diretora.
Segundo Angela, além de colaborar com um projeto social
de inclusão, a escola tem um benefício maior: todos os seus alunos
aprendem a respeitar quem é diferente. "Tivemos um caso bem curioso na
semana passada. Um pai chegou aqui e disse que viu na TV que uma das
professoras do filho tinha Síndrome de Down. Ele estava impressionado
porque a criança nunca comentou sobre isso em casa. Esse fato mostra o
quanto é natural para os nossos alunos a presença da Débora."
Gosto da escola. Quero seguir fazendo isso, e defendendo a inclusão
Débora Seabra
1ª professora com Síndrome de Down do Brasil
Segundo a mãe, a decisão de não receber salário está
relacionada a uma questão legal: a família luta pela aprovação de um
projeto de lei no Estado para que as pessoas com deficiência intelectual
possam trabalhar sem perder a pensão que recebem (o valor seria
reduzido em 30%, mas não extinto). Uma lei semelhante já foi aprovada em
nível federal, mas cada unidade da federação precisa de lei própria
para que a regra tenha valor no plano local. "É uma segurança para que
eles possam entrar no mercado de trabalho", defende Margarida.
Para Débora, recebendo ou não salário, o principal é
continuar dando aulas. "Gosto da escola. Quero seguir fazendo isso,
e defendendo a inclusão", disse ao lembrar das palestras que dá em todo o
País e até no exterior sobre a importância de inserir as pessoas com
Down na escola regular. Ela ainda está empolgada com o lançamento do
primeiro livro, de fábulas infantis. "Débora conta histórias", da
editora Araguaia Infantil, já está à venda nas livrarias, mas o
lançamento oficial vai ocorrer com uma festa no dia 5 de setembro, no
Solar Bela Vista, em Natal.
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