January 20, 2014 às 11:34 am | Gestão

Na semana passada, falamos um pouco sobre os primeiros passos para
construir boas relações na escola. Bom, para atingir esse objetivo, é
necessário fazer um trabalho contínuo, que envolve diversas ações. Uma
delas é o estabelecimento de combinados e regras de convivência.
Esse tema, aliás, parece estar na moda. O que é, ao mesmo tempo,
positivo e negativo. Por um lado, trata-se de um assunto importantíssimo
no processo de desenvolvimento dos estudantes e, portanto, merecedor de
atenção. Por outro, a atenção dada ao tema faz com que surjam muitas
interpretações equivocadas, em que os educadores acabam indo na direção
oposta à construção de bons relacionamentos, ainda que tenham a
boa intenção de estabelecer uma prática democrática – o que nós sabemos que não é suficiente.
O conhecimento teórico, oferecido pelos inúmeros pesquisadores que há
tanto vêm contribuindo com nosso trabalho, é imprescindível para que
avancemos com nossas práticas. No post de hoje, trabalharei com a
perspectiva apresentada pelo psicólogo americano Elliot Turiel e pelas
professoras brasileiras Telma Vinha e Luciene Tognetta (ao final do
post, deixo indicações das obras que utilizei como referência).
Antes de começar a falar propriamente sobre a maneira de estabelecer combinados
convencionais, acho importante diferenciá-los das regras
morais.
A primeira categoria diz respeito a acordos firmados entre cada
professor e a turma para que as aulas funcionem melhor. Eles dependem
dos conteúdos estudados, da disciplina e da faixa etária dos alunos. Nas
aulas de Matemática, por exemplo, pode ser importante combinar como
será feito o uso da calculadora, enquanto o professor de Língua
Estrangeira combinaria o uso de português em sala. Esses combinados são
uma convenção e, portanto, podem ser negociados. Já as regras
morais não são — ou não deveriam ser — passíveis de negociação. Na semana que vem, falaremos mais sobre essa segunda categoria.
Combinados sob demanda
Bom, tendo clareza do que são as regras convencionais é necessário que
as tornemos realmente significativas para nossos alunos. Isso acontece
quando elas surgem a partir das necessidades do grupo e não quando
iniciamos o ano discursando sobre o que a turma deve ou não fazer. As
situações de conflito não podem ser antecipadas e prevenidas apenas
apresentando rapidamente as regras da “minha aula” “para minha turma”. O
engajamento da classe acontece à medida que a garotada se sente
pertencente ao espaço de discussão. Somente quando percebem que são
ouvidos, veem sentido em cumprir as regras e combinados
do grupo.
O professor de Matemática que já citamos, por exemplo, só discutiria o
uso da calculadora se notasse o uso inadequado do equipamento a ponto
de interferir nas aprendizagens da turma. O docente apresentaria a
questão à turma e as motivações pelas quais ele considera ou não
problemática a presença do material em determinada atividade. Em
seguida, ouviria as opiniões dos alunos para então listar com a turma as
situações em que seria ou não permitido o uso da calculadora.
Também é importante que os alunos participem da elaboração das
sanções caso o combinado seja descumprido (mais a frente, falaremos com
mais detalhes sobre essas sanções). Como os combinados são uma espécie
de “contrato social”, é importante que a ruptura deste seja sentida pelo
grupo como um todo, abrindo espaço para boas reflexões e possíveis
reparações.
É comum que os professores decidam expor essas regras em um quadro ou
um cartaz. A minha opinião sobre isso é: se as etapas de elaboração
coletivas foram cumpridas, por que não? Mas quanto menor for a lista,
melhor! Ao fazer o registro, lembremos de que frases assertivas,
positivas, surtem melhor efeito psicológico do que as negativas.
Portanto, evitemos o “
Não isso”, “
Não aquilo” e usemos a forma afirmativa do que o grupo definiu como importante para o bom andamento das aulas.
Vale enfatizar, mais uma vez, que é necessário adequar essa
estratégia de acordo com os conteúdos e a faixa etária dos alunos.
Respeitando esse princípio, é possível trabalhar dessa maneira com todos
os segmentos: da Educação Infantil ao Ensino Superior.
Antes de me despedir, deixo aqui as informações sobre os livros que eu considero como referência no assunto:
-
The Development of Social Convention (Elliot Turiel, 252 págs., Cambridge University Press,
cambridge.org, 57 dólares, sem tradução para o português)
-
Quando a escola é democrática (Telma Vinha e Luciene Tognetta 144 págs., Mercado de Letras,
mercado-de-letras.com.br, 38 reais).
http://gestaoescolar.abril.com.br/blogs/aluno-em-foco/2014/01/20/como-fazer-os-combinados-com-a-classe/